(Raquel
Pereira)
Era
mês de Julho, a televisão não dava trégua, o comercial frenético disparava a
todo o momento - PAI NÃO ESQUEÇA DA MINHA CALOI -.
Quem
está na casa dos trinta sabe exatamente do que estou falando. Eu uma criança
como outra qualquer louca pra ganhar à bendita, é bem verdade que estava louca
para ter a minha primeira bicicleta. Tinha na época uns 5 anos, aproveitei
então o mês do meu aniversário e fiz o bendito pedido - CALOI-.
A
pior loucura dele foi prometer, quem me conhece sabe que não sou criatura
fácil, quando encasqueto com alguma coisa não há santo que resolva.
Chegou
o grande dia - MEU ANIVERSÁRIO -, que por grande coincidência era dia dele
também, fui até a porta ansiosa esperando que chegasse do trabalho, mal colocou
o pé quintal adentro, corri em sua direção, ele abraçou-me, não lembro se retribuí
o parabéns, a ansiedade tomava-me toda, então disparei aquela afobação que me
consumira o dia todo- PAI CADÊ A MINHA BICICLETA?-.
Ele,
tentando remediar a situação, com um sorriso muito sem graça, disse-me que
tinha comprado, que estava na loja, tinha saído tarde do trabalho e não conseguira
trazer. Fiquei muito triste e voltei para sala.
A
cena se repetiu inúmeras vezes, os dias foram passando, o mês já havia virado,
todos os dias eu ia recebê-lo, a cada hora uma desculpa diferente.
Cansei
das desculpas, uma noite quando chegou do trabalho, não fui à porta como de
costume, ele me chamava ansiosamente – FILHA, NÃO VAI DAR UM ABRAÇO NO PAI?,
NÃO VAI PERGUNTAR DA BICICLETA?- Respondi que não, que sabia que não tinha trazido.
Minha
mãe tentava me animar para ir até a porta, mas eu tinha desistido não
acreditava mais no que papai dizia...
A
muito custo, me levaram até ele, lá estava minha tão sonhada- BICICLETA-, a
alegria tomou-me o peito.
Guardo
esse pequeno momento com carinho, lembrança linda, hoje consigo me colocar no
lugar dele, imaginar a dor no seu coração a cada desculpa, a cada olhar triste
que fiz, dor que naquele momento ele não
deixou transparecer.
AQUELA
BICICLETA custou muito trabalho, custou um dinheiro que não sobrava, que não
nos permitia luxos, mas que no coração de um PAI valeu todo sacrifício.
Não
foi a Caloi, mas foi a que o teu coração conseguiu. O que dizer além de...EU ME
LEMBRO PAI, OBRIGADA!
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