domingo, 17 de janeiro de 2016

Nada




                                                                          Raquel Pereira


Não quero escrever hoje, talvez não queira escrever nunca mais.

Nada, nada do que possa ser dito com mão e tinta, absolutamente nada!

Nada reflete um décimo do que está na alma.

Mas, é quando não digo que elas aparecem como fantasmas e assombrações.

Recolho-me a uma mísera folha, mas nada, não há nada a dizer.

Ingrato qualquer verso que queira transfigurar o que as entranhas da alma têm a dizer.

Não há montanhas, funduras ou encostas que possam através das mãos explicar.

Escrevo e o tempo passa. Zero! zero o cronômetro da linha do tempo.

Nada, nada mais quero saber do tempo que ficou.

Que das pétalas arranco uma a uma, da flor deixo só o esqueleto, é dele que me vale o tempo, é dele que outras pétalas hão de aparecer.

Não lamento, pago com a fina pena da maldita caneta, assim zero o tempo.

Já não há devedores, já não há dever, nada! Não há nada que a alma tenha a dizer.

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