terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O primeiro dia de aula



Hoje foi o primeiro dia de aula, lembro-me que até ouvi pela televisão o repórter dizer:
-HOJE INICIAM-SE AS AULAS NO ESTADO.
É certo que hoje dia 16 de Fevereiro começam as aulas no Estado de São Paulo.
E no primeiro dia, as esperanças e os medos estavam todos no mesmo pulo. Mas a vontade e o desejo eram ainda maiores que qualquer medo, os pés foram levados pela alma, até o local onde alegre estaria todo o corpo.
Em cada olho a esperança, na boca sorrisos, palavras doces e acolhedoras. É certo que Alves tinha razão em dizer que o professor que torna-se amigo de seus alunos nunca se sente sozinho.
É engraçado pensar que com todos estes sentimentos, exista um enorme medo: O medo das experiências. Pois tudo o que ainda não foi vivido dá um certo arrepio, afinal que controle temos de coisas que ainda não foram? É tenebroso pensar nesse medo, mas também se torna engraçado quando pensamos nesse dilema: Quem acalma quem no primeiro dia? Os professores ou os alunos? Meu lado poeta me permite admitir sem medo que são elas as crianças, que ditam de certa forma nossa segurança, pois não é por elas que nossas posturas se modificam? Na tentativa de tornar o primeiro dia o mais aconchegante possível? então em função delas ao achar que não se sentem seguras, tentamos passar o que elas nos fizeram ter. Muitos dirão que tal sentimento está impregnado em nosso corpo já vivido, mas é bem verdade que é delas pequenas criaturas divinas quem vem a nossa confiança.
Fui eu então linda, segura e leve, era onde queria estar, afinal que fim há para alguém que sendo professor não possa lecionar, melhor seria nem ter dedicado tantas horas a tal formação, uma vez que como Freire saberia dizer sem pestanejar: "Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar e anunciar a novidade. Pois para que serve tanto conhecimento se a ninguém importa, é como um tesouro perdido, ou uma ilha que sendo linda em si, ninguém pode adentrar, olhar cavucar pesquisar, de que vale então? Nada, nada...
É mais ou menos o que sinto, por não poder estar na sala de aula, isso é claro porque ainda sou uma professora eventual, não sou efetiva e por tanto sou tolhida de minha vontade, essa é uma palavra que cabe bem ao que quero dizer, paralisada por algo superior, como se fosse um escravo, agora é claro se se tratasse de escravo alforriado quem sabe poderia até ficar, ah! Meu caros confesso que o meu desejo é que eu fosse........mas não, ainda não sou, minha alforria está no papel de um concurso e embora saiba de tudo o que posso realizar sem ele, mesmo assim ainda não posso fazê-lo, tornando apenas sonho que se arrasta na parede do relógio da sala.
Oh! Tempo cruel, mesmo que meus pés tenham travado em sentido de batalha insistindo no sentido de ficar, a única coisa que pode ficar ali, foi o coração, mas já é uma esperança, pois Alves mesmo defendeu que “ O que o coração ama fica eterno”, então ali resta um pedaço meu ainda. O restante do corpo foi levado pelas pernas portão afora, seguindo o cinzento asfalto, longe de toda beleza dos olhos e sorrisos.
Senti uma enorme tristeza ao adentrar meu lar, é certo que certas tristezas fuzilam a alma, quase fui traída pelos meus olhos, mas em um ímpeto de socorro minhas mãos acolheram entre elas um livro, que fez retornar a paz a alma “Lê-se pela mesma razão que se dá um beijo amoroso: porque é deleitoso, porque dá prazer ao corpo e alegria à alma. (Rubem Alves em A escola dos meus sonhos) .

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